Ter independência financeira, pagar as contas em dia, tirar os projetos do papel,
investir e ainda ter uma reserva financeira são as metas de qualquer pessoa
ao imaginar um cenário financeiro ideal
É claro, para alcançar cada um desses objetivos é preciso de organização e planejamento. Agora, pare e pense: quando foi a primeira vez que você teve contato com algum tipo de educação financeira?
A falta de conscientização sobre como controlar os gastos é um problema enfrentado por pessoas de diferentes classes sociais e até empresas dos mais variados portes. Então, por que não facilitar esse processo começando ainda na infância? Segundo uma pesquisa realizada por especialistas do Banco Mundial, crianças com sólida educação financeira possuem mais facilidade de pensar no futuro e planejar suas economias. Ou seja, ao introduzir aos poucos a temática no dia a dia das crianças, estamos contribuindo para um futuro mais equilibrado financeiramente.
A educação financeira infantil passa pela escola e pela família, que são os ambientes mais naturais e propícios para a criança participar desse processo de forma lúdica e bem orientada. Os pais não precisam forçar a temática e as escolas podem introduzir o conteúdo de forma dinâmica entre as aulas. A proposta é lidar com o assunto com sutileza e naturalidade.
COMO E QUANDO FALAR DE DINHEIRO COM AS CRIANÇAS?
É importante que a criança comece a aprender algumas noções básicas sobre o valor do dinheiro a partir do momento que ela já começa a pedir para comprar coisas como brinquedos ou doces. Você não precisa ser um expert do setor financeiro para ensinar conceitos simples e do dia a dia. Essa troca precisa ser leve, amigável, conduzida com naturalidade, e não como uma imposição dos pais.
Não existe uma idade específica para iniciar a educação financeira infantil, por isso, é bom prestar atenção aos interesses de cada criança.
Dos 3 aos 5 anos de idade
As crianças podem ainda não fazer contas, mas elas já entendem que o dinheiro é necessário para adquirir qualquer tipo de coisa: aqui, as cédulas e as moedas já representam algum valor simbólico. A observação é o que promove essa percepção de caro ou barato, que elas ainda estão aprendendo. O seu filho já acompanhou você durante a finalização de uma compra, não é mesmo?
Com essa idade, é importante estabelecer prioridades, principalmente quando pensamos em brinquedos ou guloseimas. Nesse momento, o seu filho aprende sobre limites, até porque não é sempre que você vai realmente poder atender a algum pedido. Introduza a educação financeira de forma lúdica, com atividades que ensinam noções de quantidade, agrupamento, comparação, acréscimos e diminuições.
Existe a possibilidade de criar formas nas quais ele entenda a necessidade de economizar para alcançar os objetivos: quando você e seu filho criam listas de desejos juntos e ele tem que priorizar as coisas que mais deseja ganhar, por exemplo. Nesse caso, você pode orientá-lo sobre quanto ele precisaria guardar para comprar um item pequeno e específico da lista. Pense em algo que seja barato para facilitar a conta nessa faixa etária e não demore tanto para ser poupado, como um picolé, um sorvete, um brinquedo simples. Ofereça trocos e moedas para que ele consiga poupar o necessário. Nessa idade, você precisa ajudar na soma e contar quando ele já tem o valor total para realizar a compra. Assim ele consegue trabalhar a espera pela conquista e a importância de economizar para comprar o que deseja. Se ele não conseguir guardar tudo e quiser usar o valor que juntou antes da data para comprar um outro item que não estava previsto, ele terá que fazer escolha de abrir mão do que mais desejava. Não é assim na vida adulta? Essa é uma forma de ensinar brincando. Caso o seu filho não entre na brincadeira, não force. Tudo tem sua hora.
Dos 6 aos 10 anos
Nessa idade, as crianças costumam ter um conhecimento matemático básico e conseguem realizar algumas operações. Então, essa pode ser a hora de introduzir ações para que a criança aprenda a lidar com dinheiro fora das brincadeiras. Como fazer isso?
Crie possibilidades para que eles possam realizar atividades simples como comprar pipoca no cinema ou combine com a criança uma tarefa para que ela possa receber algum valor para colocar no cofrinho. Que tal dar uma quantia para que a criança possa comprar o próprio lanche na escola? Incentive-o a guardar o valor e a controlar o quanto tem de uma forma mais independente. Diferente dos pequeninos, essa faixa etária já tem um pouco mais autonomia na hora de controlar os valores.
Essa também pode ser uma boa hora para negociar os presentes de datas festivas. Apresente uma quantia máxima que você pode gastar e ensine-o a entender qual brinquedo, roupa ou livro ele pode escolher para ganhar. Ele quer passar desse limite e você vai precisar de mais dinheiro? Não mude de ideia. É nesse momento que a criança passa a entender a necessidade de se organizar e economizar para adquirir o que ela quer. Quem sabe ele não ajuda com uma quantia, mesmo que simbólica, mas que mostre ao seu filho como controlar os gastos é importante quando se tem um objetivo.
A partir dos 11 anos
Nessa etapa, você já pode aumentar a responsabilidade do seu filho com o uso do dinheiro. Fazer planos e escolhas são processos que ganham maior importância nessa faixa etária. O seu filho vai ao cinema com os amigos, mas também quer um fone de ouvido de marca? Conceda uma mesada semanal ou mensal e deixe o seu filho escolher quais as prioridades naquele mês. Aconselhe, mas não interfira tanto, pois é importante que ele aprenda caso opte por gastos que acabam tirando o foco dos objetivos. Isso é parte do aprendizado. Ele pede roupas novas, smartphones, jogos eletrônicos? Ensine-o a pensar a longo prazo e economizar para conquistar o que deseja. Ao criar metas e trabalhar com prazos, ele consegue perceber o seu sonho sendo realizado e ganha mais autonomia ao longo do processo.
AS BRINCADEIRAS COLABORAM NA EDUCAÇÃO FINANCEIRA?
Para as crianças, aprender com brincadeiras é sempre mais divertido e estimulante. Brinquedos simples como a caixa registradora podem reproduzir situações de compra e venda de produtos em uma loja, por exemplo.
Crianças maiores já podem ter contato com brinquedos mais detalhados sobre educação financeira. Banco Imobiliário, Jogo da Mesada ou versões dos jogos Monopoly são alguns dos jogos clássicos que simula situações de compra e venda de terrenos, casas e empresas. A versão mais moderna do jogo inclui até a maquininha de passar cartão de crédito ou débito.
Os livros também são importantes aliados para trazer esse aprendizado de forma lúdica. Para os pequenos a partir de três anos, o livro infantil A menina, o cofrinho e a vovó, da poetisa Cora Coralina, retrata uma avó que precisou fazer doces para vender. O sucesso dos doces é tão grande que ela necessitou comprar uma geladeira usada e a prazo.
Para ajudar nessa missão, a neta oferece carinhosamente seu cofrinho para a realização desse sonho da sua avó. Para os maiores a partir de sete anos, o livro infantil Dinheiro compra tudo?, da educadora financeira Cássia D’Aquino, fala sobre como as moedas surgiram, ensinando também o básico sobre planejamento.
Já a publicação Como se fosse dinheiro, da consagrada autora Ruth Rocha, também é indicada para crianças a partir de sete anos e tem no enredo um personagem principal que cansa do recorrente troco em bala oferecido pelo dono da lanchonete, inserindo situações bem-humoradas para mostrar a relação da criança com o dinheiro.
O Ziraldo também escreveu o Almanaque maluquinho – Pra que dinheiro?, com histórias em quadrinhos e curiosidades que ensinam as crianças a lidarem com os cofres e mesadas, explica como surgiu o dinheiro, fala sobre os mecanismos de oferta e demanda, bancos e até como fazer um orçamento doméstico.
Para as crianças de 8 a 10 anos, o livro Meu Cofrinho, Meu Futuro, da Editora Saraiva, fala de economia em geral, educando para o consumo e planejamento financeiro.
Para quem quer um conteúdo que acompanhe a evolução da criança nesse aprendizado, a coleção O menino do dinheiro é formada por cinco livros e de autoria de Reinaldo Domingos, idealizador da Associação Brasileira de Educadores Financeiros. A história mostra menino humilde e sonhador que vai recebendo novos desafios a cada volume, do básico à sustentabilidade ambiental e financeira.
A MESADA AJUDA NA PRÁTICA?
A idade quem define é você, mas oferecer uma pequena quantidade de dinheiro semanal ou mensal para o seu filho é um bom jeito de ensinar a lidar com o dinheiro. É claro, é preciso explicar e impor regras também, mas com fazer isso?
* O primeiro passo é explicar como as cédulas e as moedas são divididas em diferentes cores e valores;
* Dê exemplos concretos e compare cada quantia a um produto;
* Deixe claro quais despesas você paga para o seu filho e o que ele pode fazer com o próprio dinheiro;
* Não conceda valores muito altos. Que tal começar com um real para cada ano da criança?;
* A criança gastou tudo de uma vez? Explique a importância da poupança e de como ele pode começar a guardar dinheiro e se planejar;
* A matemática é amiga da educação financeira, então, incentive a criança a anotar quanto, onde e com o que ela gastou a mesada daquela semana.
É claro, cada caso é um caso. Então, entenda o que você pode oferecer, como pode brincar e permita que a criança faça perguntas ou até negocie com você. É assim que se começa a aprender.
QUAL É A IMPORTÂNCIA DA EDUCAÇÃO FINANCEIRA NAS ESCOLAS?
Embora não seja uma disciplina obrigatória no ensino regular, algumas escolas da rede particular já vêm introduzindo o assunto na grade curricular. Entre uma matéria e outra, a escola ensina como administrar o dinheiro, apresentando orçamentos, controle de gastos e até sobre a poupança para o futuro.
Falar sobre a educação financeira dentro e fora de casa é um bom caminho a se seguir. Dessa maneira, a criança ouve outros exemplos, observa o que os amigos também entendem sobre dinheiro e aprende mais!
Fonte: QUOD