E EU QUERIA FALAR DO MEU BAIRRO

01/06/2001
| Colunista: , Naldo Dias Alves
|
Assunto: , Política
| Condomínio: , Associação de Moradores do Floresta

Toda vez que eu sou convidado a escrever no Condomínios Em Foco, fico buscando algum assunto que seja de interesse da região onde está a associação de moradores que eu represento. Mas desta vez não consigo concentrar-me neste espaço de vital importância. Não que faltem problemas a serem abordados, mas quando os comparamos com o grave momento por que passa o país, eles aparecem com uma dimensão reduzida e, em alguns casos, intimamente relacionados com a situação nacional.

Assim, perdoem-me a pretensão, vou falar sobre o atual momento do país. Diariamente os jornais estampam manchetes sobre corrupção, fraude no painel de votação do Congresso Nacional, roubo descarado dos cofres públicos, justiça lenta e discriminatória, má administração, apagão. E eu fico pensando: para onde estamos indo? Que país estaremos deixando para nossos filhos?

E devo confessar que fico dividido nesta reflexão. De um lado, todos que vivemos durante a ditadura militar, sabemos quanto de corrupção, tortura, roubo e coação à justiça tínhamos naqueles tempos e que não nos era permitido saber ou divulgar. A imprensa vivia sob censura e medo. O fato de hoje podermos livremente conhecer quem são os fraudadores, os assaltantes do erário, os juízes corruptos e os maus administradores, sem dúvida, representa um avanço considerável. Para o bem e para o mal nossa imprensa goza de total liberdade.

Mas só isto basta? E a minha resposta é não. E este é o outro lado da minha reflexão. Com qual velocidade e eficiência seremos capazes de dar respostas efetivas na direção do conserto de todas estas mazelas que assolam nosso Brasil? Vamos a um primeiro exemplo: vermos o Senador Antônio Carlos Magalhães, todo poderoso desde os tempos da ditadura, sentado no banco dos réus, sendo acusado com uma funcionária do Senado, cria uma catarse nacional que num momento nos alivia e faz crer que a justiça pode chegar também aos poderosos. Mas depois fica-se sabendo que ao renunciar a um mandato que já se aproxima do final, este mesmo político poderá voltar num prazo menor que dois anos ao mesmo cargo de senador. E a catarse se torna frustração porque percebemos que a fraude ainda tem um custo muito barato para os que podem mais. E se pensarmos naqueles que estão envolvidos com o roubo do dinheiro público veremos que, também eles, estão regidos pelas mesmas regalias. Não fosse assim, não veríamos Paulo Maluf em propaganda em rádio e televisão vangloriar-se de ter sofrido mais de trinta processos administrativos e desvio de recursos públicos e nunca ter sido condenado. Eu pergunto: será porque ele é inocente ou por que nossa justiça é falha?

Quando Fernando Henrique diz que não foi avisado da gravidade do problema de energia e os responsáveis são ministros e técnicos nomeados por ele, você acredita que ao não demiti-los está o Presidente efetivamente imbuído da vontade de resolver o problema? E se não acreditarmos nesta vontade, que atitude seremos capazes de tomar, além daquela de ficarmos no escuro para não sofrermos mais uma multa?

Não vou alongar-me mais, até porque todos sabem que a lista ainda é muito extensa. E também porque não quero que me tomem por um pessimista contumaz. Antes muito pelo contrário: eu sou um eterno otimista e se levanto todas estas questões é porque acredito que é com nossa lembrança permanente e justa indignação que seremos capazes de atitudes transformadoras. Ainda que nos proíbam o uso de luzes mais intensas, sempre restará uma tênue luz de velas alumiando nosso caminho.

Fonte: Jornal Condomínios Em Foco 29

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