TODOS NÓS SOMOS DIFERENTES E SABEMOS FAZER COISAS MUITO IMPORTANTES!
VOCÊ SABIA QUE EXISTEM ARTISTAS QUE FAZEM OBRAS UTILIZANDO A BOCA E OS PÉS?
POR DIVERSAS RAZÕES, ESTES ARTISTAS TÊM SEUS MOVIMENTOS LIMITADOS MAS, AINDA ASSIM, ENCONTRAM OUTRAS FORMAS DE FAZER SUA ARTE.
E QUANTAS OBRAS BONITAS ELES PRODUZEM!
Kazê, morador da Freguesia, faz parte da Associação dos Pintores com a Boca e os Pés.
Estilo de pintura: Com a boca – Técnica: Acrílica
Nascido em 8 de março de 1973, no Rio de Janeiro, RJ. Ficou tetraplégico aos 18 anos num acidente em que um carro desgovernado o atingiu. Adora viver as coisas simples da vida, sempre que pode aprecia o pôr do sol, que por sinal foi uma de suas primeiras telas. Tem muita força, sonhos e projetos pessoais a serem realizados.
Aventureiro, guerreiro, amante da natureza e da vida, Kazê acredita que a Ciência descobrirá maneiras de refazer a conexão de medulas seccionadas, como a dele.
“A ciência descreve as coisas como são. A arte descreve as coisas como são sentidas, como se sente que são” – Fernando Pessoa
Podemos pegar emprestadas as palavras do genial Fernando Pessoa e aplicá-las ao Kazê, um dos nossos talentosos vizinhos do bairro da Freguesia (Jacarepaguá).
Vamos apreciar as pinturas feitas por Kazê
Conversando com Kazê – Entrevista concedida a Daisy Lucas em 16/11/2018
Por que KAZÊ? E qual seu verdadeiro nome?
Meu nome é Carlos Eduardo, porém, quando meus amigos me chamavam quando pequeno, falando o meu nome rápido, ficava Caseduardo, então, decidiram para ficar mais fácil, me chamar só de Case. Numa época da minha vida, passei a fazer camisa para vender. Para facilitar a marca, passei a usar Kazê, podendo também ser KZ.
Pode compartilhar conosco os dois momentos mais importantes da sua vida até agora?
Quando a associação de pintores me ligou dizendo que fui aceito, foi muito importante para mim e, o nascimento dos meus sobrinhos.
O que você faz na vida?
Sou Artista Plástico, pintando quadros com a boca. Faço parte da Associação de Pintores com a Boca e os Pés (APBP).
Como e por que iniciou esta essa atividade?
Eu era representante comercial, representando em todo o Rio de Janeiro fábricas de sapato, bolsas e cintos de vários estados do Brasil. Um amigo, que conheci através do meu cunhado, também cadeirante e tetraplégico, me convidou para entrar para a APBP. Eu respondi na hora: “Nunca pintei nem casinha com as mãos, como vou pintar com a boca?” Ele falou que na Associação de Pintores existiam muitos artistas que também não pintavam muito bem, nunca haviam pintado antes, porém entrando para associação, passaria a receber uma bolsa mensal, exatamente, para fazer cursos, comprar material de pintura e evoluir como artista. Meu amigo levou seu material em minha casa, com suas dicas fui pintando um pôr do sol, por gostar muito de paisagem. Claro que não ficou nenhuma grande obra de arte, porém muito melhor do que eu imaginava, e fiquei muito feliz.
Mais tarde, mostrei meu lindo pôr do sol para o meu irmão mais velho, que disse: “Esse ovo frito está muito legal”. Fiquei seis meses sem pintar. Um dia encontrei uma amiga de infância, que pinta muito, sempre desenhava na escola, pega uma foto nossa, pinta e fica melhor que a foto. Conversando com ela sobre a Associação, se ofereceu para me ensinar a pintar. Com suas dicas pintei seis quadros, como exige a APBP e enviei para a Suíça. Um ano depois me ligaram dizendo que fui aceito. Foi um momento muito feliz!
Eu sei que você luta para acabar com vários preconceitos com relação à tetraplegia e à deficiência física de modo geral que. Pode falar um pouco sobre isto?
Pois é, Daisy. Até hoje existe aquela visão, para a maioria das pessoas, que o deficiente é incapaz de realizar qualquer função, de que é um coitadinho. Somos capazes de realizar qualquer função, precisamos apenas de pessoas que nos deem oportunidade de usarmos plenamente a nossa capacidade.
Além disso, existe alguma outra atividade à qual você gostaria de se dedicar?
Pretendo me dedicar mais como palestrante, fazer faculdade à distância. Penso muito em psicologia.
Você tem algum hobby? Por que classifica isto como hobby?
Jogo futebol de cadeira de rodas e também faço mergulho adaptado. Duas atividades que me dão muito prazer. Até mesmo a pintura, que apesar de ser minha profissão, é também uma grande terapia.
Antes do acidente eu já praticava mergulho, junto com meu pai e meu irmão. Depois do acidente eu achei que nunca mais poderia mergulhar, até que conheci o Jefferson, lá no Hospital do Fundão, meu amigo até hoje. Ele que me levou para o mergulho adaptado, com estruturas especiais. E no mesmo dia, eu liguei e comecei no dia seguinte.
Futebol, mergulho. Mas pelo visto, o mergulho é a paixão.
É mesmo, Daisy, quando eu mergulho vejo outro mundo dentro do nosso, você vê cores e seres inimagináveis. Pode mergulhar todos os dias no mesmo lugar que vai ver sempre coisas diferentes.
Se você fosse, por um dia, o homem com o maior Poder do Mundo o que faria nessas 24 horas?
Tentaria diminuir a fome no planeta, toda essa injustiça. Faria mais acordos, união, para um mundo melhor, sempre pensando na preservação da natureza, oxigênio, água potável.
Você já expôs seus quadros em outros países? Quais?
Argentina, e os quadros que eu mando para a Suíça possivelmente foram enviados para outros países.
Qual a pergunta que você gostaria que eu tivesse feito e não fiz? Pois então, pode respondê-la.
Muitos me perguntam se sou feliz na minha condição de tetraplégico respondo que preferia não estar assim, mas como não posso mudar, tento viver da melhor maneira possível na minha situação. Trabalhando, ajudando sempre que posso um amigo, oportunizando momentos bons para me fazer feliz.
Tem alguma mensagem que queira enviar e que acha que pode ajudar pessoas?
Para quem tem objetivos na vida, se esforçar o máximo, sair de sua zona de conforto. Jamais desistir com um tombo ou fracasso. Ao mesmo tempo, aproveitar os momentos bons que a vida nos proporciona, curtindo as coisas simples, a família, um pôr do sol.
Contato Kazê: Facebook – Cel: (21)97023-6990
+Kazê
+Gente do Bairro