Você é seu melhor remédio

03/02/2020
| Colunista: , Gilberto Ururahy
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Assunto: , Comportamento, Medicina, Saúde

É uma nova especialidade médica e cada vez mais incorporada à rotina dos profissionais de saúde. Trata-se da medicina do estilo de vida e a importância que vem adquirindo nas últimas décadas parte de uma constatação lógica. A morte, que para a maioria dos humanos antes vinha a galope, montada em infecções capazes de matar milhões de pessoas num curto espaço de tempo, agora chega a passo lento, turbinada por hábitos de vida pouco saudáveis.

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Hoje, morremos mais por doenças crônicas que conduzem ao infarto agudo do miocárdio, AVCs e ao câncer do que por epidemias de gripe, por exemplo. O mais grave é que a maior parte dessas mortes poderia ser evitada, às vezes sem qualquer uso de remédios. Para o risco de câncer, abandonar o cigarro e reduzir o álcool é mais eficaz do que uma quimioterapia. Um pouco de mais de sono de qualidade ajuda a repor as energias e uma dieta com menos processados e menos carboidratos é o caminho mais seguro para garantir a saúde do fígado.

Segundo a Organização Mundial de Saúde, 80% das doenças cardíacas, AVCs, diabetes tipo 2 e, 40% dos tipos de câncer que afligem a humanidade seriam drasticamente reduzidos com mudanças nos hábitos de vida. Um estudo da USP em conjunto com a Universidade de Harvard indica que vinte tipos de câncer associados ao tabagismo, álcool, excesso de peso e falta de exercícios respondem por 114 mil casos da doença todo ano no Brasil. São essas evidências, coletadas ao longo das últimas quatro décadas, que deram corpo à prática da medicina do estilo de vida.

Sua proposta é intervir no comportamento individual como parte das terapias usadas para prevenir, tratar e até reverter doenças crônicas antes que elas ou apareçam, ou cheguem ao estágio onde a única opção é apelar à farmacologia ou à cirurgia. A medicina do estilo de vida se apoia em seis pilares. De alguns, você provavelmente já ouviu falar bastante e seus impactos positivos na saúde da população são conhecidos. É o caso da atividade física regular, da alimentação dominada por frutas e vegetais, da necessidade de se evitar o excesso de álcool, manter distância do tabaco e das drogas.

Os outros três pilares dessa abordagem clínica são a qualidade do sono, a boa gestão do estresse e as relações sociais e familiares de um indivíduo. Quem dorme pouco fica vulnerável a infecções e agrava seu risco de estresse, que conduz muitos indivíduos à ansiedade, à depressão e à obesidade. O último pilar da medicina do estilo de vida, a atenção e o cuidado com amigos e família, se baseia numa triste estatística. O isolamento social (solidão) aumenta as chances de uma pessoa morrer precocemente.

O grande desafio da medicina do estilo de vida é envolver a pessoa nas estratégias de manutenção da sua saúde e, em caso de doença, no seu tratamento. Para isso, ela usa um conhecimento acumulado de mais de 40 anos, que permite que os médicos e profissionais de saúde desenhem programas individualizados para engajar os pacientes na prevenção de doenças crônicas ou na sua recuperação. Eles precisam se tornar protagonistas do seu próprio bem-estar.

Novos hábitos, mais saudáveis e definidos a partir de exames médicos preventivos, não são só fundamentais para as pessoas se sentirem melhor. São também um ótimo investimento nelas mesmas e na sociedade, contribuindo para reduzir o impacto cada vez maior que as doenças crônicas têm na economia. Além de afetar a produtividade nas empresas, elas consomem hoje a grande parte do dinheiro gasto com saúde. Nos Estados Unidos, representam 86% de todos os custos anuais do setor. Comer mais verduras, frutas e legumes, se movimentar mais, manter as suas relações sociais em dia, não abusar do álcool, dormir corretamente, gerir o estresse e fazer check-ups periódicos sai bem mais barato do que tratar doenças.

Fonte: Revista ACIBARRA

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