MERCADO IMOBILIÁRIO PÓS-CORONAVÍRUS

18/06/2021 |
Assunto: , Imóveis

O ano de 2020 começou com uma expectativa positiva para o mercado imobiliário. Tudo indicava que o setor seria um dos grandes responsáveis pelo crescimento da economia, já que no último ano registrou-se uma alta nos números, fato que não acontecia desde 2014

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Mas as consequências trazidas pela pandemia do novo coronavírus fizeram com que a cautela fosse uma das palavras mais utilizadas nos prognósticos do mercado imobiliário, afinal é preciso existir uma reconfiguração das ações, das metas e dos projetos tendo em vista a situação de enfrentamento de uma pandemia.

A retomada do setor em 2019, assim como em outros anos, também serve de exemplo de como é possível o mercado se recuperar de períodos complexos, mesmo diante de um cenário jamais enfrentado. Mas é importante estabelecer um pensamento sobre como será esse novo mercado, que mudanças estão por vir, para que o profissional esteja preparado e com o conhecimento necessário para superar as dificuldades.

A advogada especialista em direito imobiliário, Iracema Reis, ressalta a importância ainda maior dos detalhes dos contratos imobiliários, e a possibilidade de que os mesmos sejam negociados:

– Os contratos devem ser respeitados, essa é a regra, Pacta sunt servanda, no entanto nenhuma regra é absoluta, e a própria lei cuida de relativizar, diante de determinadas circunstâncias, princípios e regras. Com todas essas informações novas, é ainda mais importante ficar atento aos detalhes dos contratos.

Iracema Reis ainda orienta que qualquer acordo ou negociação em contrato vigente que seja feito durante esse período é importante ser pactuado formalmente, sempre por escrito, e sempre sob a mesma forma. É indispensável estar atento que os contratos e a situação de cada cliente deverão ser analisados caso a caso. Nem todo mundo irá conseguir um acordo que seja suficiente para a situação em que se encontra. Mais atenção tanto para os contratos que já estão vigentes e os acordos que estão sendo firmados durante e após a pandemia, como alerta a advogada:

– Os contratos devem primar sempre por cláusulas claras que concretizem o princípio da informação e transparência, assim como equilíbrio entre as partes contratantes. Nesses tempos de pandemia, temas como distrato, prazos de execução de obras e financiamentos são temas contratuais que certamente serão objeto de revisão ou repactuação futura.

Quanto ao mercado das construções pós-pandemia, existe uma aposta de que ao contrário dos demais setores da economia, irá crescer com a retomada gradativa das atividades. Os cortes nas taxas, como a Selic, que cada vez mais atingem valores inéditos, podem não só desestimular os investimentos tradicionais, como vão proporcionar o crescimento do mercado imobiliário. Conforme relata Luiz Antônio França, presidente da Abrainc (Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias):

– O setor tende a crescer, especialmente após o novo corte na taxa Selic atingindo patamar que desestimula colocar dinheiro em renda fixa tradicional. Os juros baixos levam os investidores a buscar alternativas de investimento mais rentáveis, o que torna os imóveis atraentes para aporte visando retorno financeiro, por exemplo, com aluguel.

O mercado de baixa renda está se mostrando mais resistente à crise, e com isso, as empresas do segmento tendem a atingir suas metas de venda. Ainda segundo análise do presidente da Abrainc muitas pessoas podem se sentir estimulados, por exemplo, a realizar uma mudança de imóvel, destacando ainda a alteração na própria demanda do público devido ao isolamento social inesperado. Antes imóveis compactos e próximos aos centros comerciais estavam cada vez mais em alta. Mas pelo visto esse cenário é capaz de mudar no pós pandemia:

– As pessoas sentiram mais necessidade de tomar sol e de ter áreas verdes. A varanda virou o quintal para tomar sol. Acredito que haverá uma tendência de os condomínios apostarem mais em paisagismo. Além de uma revalorização de imóveis com cobertura e jardins. Haverá mais busca por casas com quintal e apartamentos avarandados. Claro que é tudo muito novo ainda, mas o mercado se adapta rápido às novas tendências.

Não apenas pela limitação de transporte e a impossibilidade de abertura de certos espaços, mas também pelo receio da própria população, as negociações estão se dando na maioria das vezes por canais digitais. Mesmo sendo inicialmente devido às medidas de segurança recomendadas pela Organização Mundial de Saúde (OMS), as negociações devem continuar tendo maior presença no âmbito digital no pós-pandemia. Segundo Bruno Lessa, especialista em marketing e autor de diversas obras sobre segmento imobiliário, a pandemia só veio a acelerar um processo que já estava ocorrendo:

– A pandemia, a quarentena chegou para poder acelerar um processo de transformação digital que já vinha acontecendo há muito tempo. A tecnologia ganhou um papel muito importante, ela assumiu um protagonismo grande no mercado. Ela pode modificar o mercado deixando mais dinâmica a relação do corretor com seu cliente. Os recursos já existiam antes, porém nem os clientes nem os corretores faziam uso por completo, e só agora estamos realmente explorando esses recursos.

Bruno Lessa ainda afirma que é importante a busca por aprimoramento por parte do corretor. Afinal, o mercado está mudando, outras formas de negociação e ferramentas de trabalho vão surgindo, e com elas, também há o público exigente, cada vez mais atento às novidades do mercado por conta da facilidade do acesso à informação. Mais do que nunca a atualização do corretor é importante.

Se manter relevante durante a pandemia tem sido sim um desafio, mas a resposta para isso nem sempre tem a ver com uma elaborada estratégia de marketing ou presença online, mas apenas a uma mudança de perspectiva, como afirma Bruno:

– Para se manter relevante não só nesse período, mas em qualquer época, o mais importante é você resolver o problema de alguém. Não se trata de você vender o imóvel, mas você ajudar o cliente a comprar o imóvel. Mais do que nunca o corretor precisa ajudar seu cliente a se entender nesse momento, se mantendo assim mais relevante.

Os corretores devem acima de tudo se preocupar com a sua saúde e de suas famílias, obedecendo todas as orientações de segurança estabelecidas. Mais um período difícil será contornado, mas para isso é preciso muitas vezes reordenar a rota de atuação para, assim, alavancar as vendas.

Fonte: Stand Edição 50 – Revista do Creci-RJ
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