O homem é tão repugnante para o gambá quanto o gambá é para o homem. Isso porque é muito fácil não aceitar o que é diferente, porque é mais fácil repudiar do que tentar entender e aprender
O primeiro fato encantador sobre os gambás, é que são marsupiais. Ou seja, as fêmeas carregam seus filhotes até que eles atinjam tamanho e maturidade adequados para serem independentes – assim como os coalas e cangurus.
Quem mora em casa pode enfrentar desafios com alguns desses espertinhos tentando filar restos de comida. Essa é a forma que alguns animais silvestres encontraram de sobreviver no ambiente urbano. Mas pense bem, se eles estão ali é porque há oferta de alimento fácil.
Cabe a nós adequar nossas residências para evitar que alguns animais se alojem ou encontrem alimento fácil ali dentro. Com isso, delimitamos um espaço confortável em que podemos viver sem competir com outras espécies.
O gambá tem focinho pontudo, nariz rosado e olhos pretos e brilhantes. Algumas espécies medem apenas 15 centímetros de comprimento, enquanto outras chegam a ficar do tamanho de um gato doméstico. A cauda sem pelos é responsável por cerca da metade do comprimento do animal. Os gambás têm pelagem rala, de cor acinzentada ou quase preta.
Esses marsupiais geralmente fazem sua morada em ocos de árvores ou sob tocos e raízes. Eles saem à noite para se alimentar e comem qualquer coisa que encontrarem: insetos, roedores, frutas silvestres, frutas podres e até ração para cães.
É muito ágil no alto das árvores, podendo andar sobre fios de luz, mas sua mobilidade no solo é lenta e desengonçada.
Formas de defesa do Gambá
Ele possui duas glândulas localizadas a cada lado da abertura anal que secretam um líquido malcheiroso, um tipo de álcool chamado butilmercaptana que pode ser esguichado em até 4 metros de distância. Ocorre que aquelas glândulas só entram em ação quando o gambá está irritado ou se sente ameaçado. É uma forma de defesa porque o forte cheiro acaba por afastar os animais que oferecem perigo.
Este mesmo odor é produzido pela fêmea na época da reprodução, para atrair o macho. Outra estratégia para escapar dos perigos é o comportamento de fingir-se de morto até que o predador desista.
Seu hábito de fingir-se de morto é famoso. Com a aproximação do perigo o gambá amolece o corpo, deixa a cabeça pender para um lado, abre a boca e coloca a língua de fora. Embora pareça morto e nem sequer estremece quando gravemente mordido pelo predador, o cérebro do gambá permanece em plena atividade para identificar e aproveitar a menor chance de fuga. De que forma o animal alcança esse aparente bloqueio total dos sentidos é um mistério insolúvel para os zoólogos.
Reprodução
Os gambás podem reproduzir-se três vezes durante o ano, dando dez a vinte filhotes em cada gestação, que dura de doze a catorze dias. Como nos restantes marsupiais, ao invés de nascerem filhotes, nascem embriões com cerca de um centímetro de comprimento, que se dirigem à bolsa, onde ocorre uma soldadura temporária da boca do embrião com a extremidade do mamilo até completarem seu desenvolvimento na bolsa materna.
Assim, a fêmea marsupial investe pouca energia e recursos durante a gestação, mas a lactação requer investimento substancial. A composição do leite tem variações marcantes nos marsupiais. O primeiro leite é diluído e rico em proteínas, enquanto o leite posterior é mais concentrado e rico em gorduras. Os filhotes permanecem no marsúpio até uns 3 meses e, quando saem ainda não capazes de viver sozinhos, são transportados pela mãe em seu dorso.
Um gambá já visitou sua casa?
A pergunta pode soar como uma maluquice, principalmente para quem reside em um apartamento, mas os que vivem em casas com quintal, a situação não é tão incomum.
Se você mora perto de matas, pequenas florestas, parques ou áreas de proteção ambiental a visita pode acontecer. E aí o que fazer?
Geralmente, um gambá pode entrar numa residência em busca de algum alimento, proveniente de um lixo mal acondicionado ou sobras de ração nos comedouros de cães e gatos. Outra razão é a procura de um local tranquilo e considerado seguro, para fazer um ninho, como os forros das residências.
Para evitar esse hóspede, recomenda-se vedar aberturas, entre telhados e forros da casa, acondicionar o lixo corretamente e retirar sobras de rações. Se o gambá estiver no quintal e houver vegetação ou árvores próximas, o morador pode colocar alguma madeira, simulando uma escada, para facilitar a sua saída.
Não é recomendável acuar o animal, o ideal é que ele encontre o caminho para fuga. Por hábito, o gambá pode procurar um canto mais escuro, para se esconder e quando escurecer sair com maior facilidade e segurança, por enxergar melhor no escuro e ter hábitos noturnos.
A espécie lembra um rato grande e quando acuada arreganha os dentes e elimina uma secreção fétida. É sua forma de defesa, não é um animal violento, que parte para o ataque.
Quem são eles
No Brasil, encontramos duas espécies: o gambá-de-orelha-branca e o de orelha-preta.
A espécie de orelha-branca, Didelphis albiventris, é a mais conhecida, encontrada na Amazônia, Caatinga, Cerrado, Pantanal, Campos e cidades. Possui pelos longos e grossos, de cor preta com as extremidades brancas, que dão aspecto de acinzentado ou grisalho. Apenas a fêmea possui o marsúpio, onde ficam alojados os filhotes.
Vamos lembrar que por transitar em áreas urbanas e conviver tão próximo ao homem, acabam sofrendo atropelamentos, ataques de cães domésticos e violência por parte de pessoas.
Vamos evitar a agressão contra esses pequenos bichos. Se encontrar um gambá em sua casa, chame o resgate especializado e ajude a preservar a natureza.
Um mamífero mal compreendido
Eles são feios, mas importantíssimos. Infelizmente, sua fama não é nada boa dentre os humanos menos esclarecidos.
A legislação ambiental proíbe tanto seu abate como os maus tratos e o cativeiro.
É considerado um dos maiores predadores de escorpiões, até mais do que as galinhas. Colabora no controle das espécies consideradas pragas para a agricultura, como os roedores e insetos. São também bons dispersores de sementes através das fezes, ajudando a natureza a plantar o que o homem destrói.
O homem é tão repugnante para o gambá quanto o gambá é para o homem. Isso porque é muito fácil não aceitar o que é diferente, porque é mais fácil repudiar do que tentar entender e aprender.