Carros Antigos: Rural Willys

01/09/2021
| Colunista: , Flavio Leal
|
Assunto: , Automóveis, Motos e Bicicletas, História

A Rural Willys foi um jipe de alto sucesso no país, teve mais de 180 mil unidades
fabricadas durante os 19 anos que esteve no mercado. Chegou ao Brasil no ano de 1958,
em torno de 10 anos depois do lançamento nos Estados Unidos

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A Rural Willys é um utilitário que foi produzido pela Willys Overland nas décadas de 1950, 1960 e 1970 no Brasil. Na década de 1970, passou a ser produzida pela Ford do Brasil, que comprou a fábrica da Willys em 1967, mantendo inalterados o nome Rural e praticamente todas as características do veículo.

A Rural Willys é, sem dúvidas, um dos utilitários mais icônicos já comercializados no mercado brasileiro. Ele foi praticamente o precursor dos utilitários vendidos atualmente, sendo considerado por muitos como o primeiro SUV à venda por aqui. O modelo fez sua estreia em terras tupiniquins em 1956 e começou a ser produzido nacionalmente em 1958.

Lançamento da Rural Willys nos Estados Unidos
AutoCooler20210901LancamentoNos estágios finais da Segunda Guerra Mundial, a Willys começou a anunciar aos consumidores locais que iria oferecer um carro de passeio com as mesmas características do Jeep utilizado durante a guerra.

Ele foi intitulado como Victory Car, ou Carro da Vitória. Porém, devido a problemas de ordem administrativa de produção e de interesses particulares, esse veículo acabou não sendo fabricado.

Porém, o idealizador do Victory Car, Brooks Stevens, encontrou uma nova solução para viabilizar o projeto. O modelo chegaria ao mercado como uma perua produzida totalmente em chapas de aço.

E foi aí que surgiu o novo Willys Station Wagon em 1946. O modelo utilizou como base o mesmo chassi do jipão utilizado na guerra, seguindo a mesma linha do utilitário militar até no visual, com para-choques robustos e a grade frontal mais reta.

Ele contava com capô, teto e para-lamas na cor vinho e laterais em creme com painéis em marrom claro para imitar a madeira (padrão na época).

Seu interior foi adaptado para acomodar até seis passageiros. Com os bancos traseiros rebatidos, o compartimento contava com capacidade para até 2.700 litros para a acomodação de bagagens. Todavia, a adição da carroceria familiar rendeu um aumento de peso de 300 kg frente ao jipe de guerra.

Por conta disso, o motor do utilitário (um 2.2 litros de quatro cilindros, com válvulas de admissão no cabeçote e de escape no bloco, capaz de gerar 64 cv e 14,5 kgfm) acabou sendo fraco demais, tornando o modelo uma decepção em termos de desempenho. Tal problema foi solucionado em parte em 1948 com a adição do motor de seis cilindros com 75 cv.

Outro modelo baseado no jipão da Willys foi o Willys Sedan Delivery, uma perua furgão destinada ao trabalho, que estreou em 1947.

Em relação ao Willys Station Wagon, este modelo se diferenciava pela ausência das janelas laterais traseiras e também por contar com duas portas traseiras com abertura para os lados. Além disso, no interior havia somente o banco do motorista para aumentar o espaço de carga.

No ano seguinte, em 1948, a marca passou a oferecer o Willys Station Sedan, considerado o modelo de luxo da linha. Ele tinha um visual mais refinado que o do Station Wagon, com novas opções de cores (como uma pintura em padrão xadrez) e um acabamento interno mais esmerado.

A marca vendeu também o Willys Pick-up, que chegou um pouco antes, em 1946. Ele foi o primeiro veículo comercial destinado ao transporte de carga usando a base da Station Wagon, compartilhando ainda a dianteira e a cabine com o modelo familiar. O utilitário tinha capacidade de carga para 500 kg.

Chegada da Rural Willys ao Brasil
AutoCooler20210901ChegadaAntes da estreia da Rural Willys no mercado brasileiro, a Willys já fabricava seus modelos em solo nacional.

A Willys-Overland do Brasil S.A foi fundada por aqui em 26 de abril de 1952 e iniciou a produção do Jeep Willys CJ-5, conhecido por aqui como Universal, dois anos depois em sua fábrica em São Bernardo do Campo (SP). Antes disso, ele era montado em regime CKD pela concessionária Gastal, no Rio de Janeiro. CKD (Completely Knock-Down ou Complete Knock-Down, em inglês) é um kit das partes completamente não montadas de um produto.

Com o início a produção do Willys em 1954, o modelo foi considerado pela Associação de Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) como o primeiro utilitário nacional.

E já que o jipe era produzido por aqui, a marca viu a oportunidade de lançar uma versão perua para oferecer um carro realmente robusto para encarar as vias precárias do nosso País, mas capaz de transportar toda a família.

Em 28 de junho de 1956, a Rural Willys começou a ser produzida em São Bernardo do Campo. Os primeiros exemplares eram fabricados também em regime CKD, com peças importadas e dotados do mesmo visual do modelo comercializado no mercado americano.

O novo SUV tinha a característica carroceria com pintura saia e blusa, com as opções de cores azul e branco, verde e branco ou vermelho e branco.

Um ano após seu lançamento, a Rural Willys passou a ter um índice de nacionalização de 100%, com todas as suas peças produzidas localmente.

Fora isso, ela adotou um novo motor nacional fundido, produzido em Taubaté, no interior de São Paulo. Tal motor 2.6 litros de seis cilindros a gasolina gerava 90 cavalos de potência e 18,6 kgfm de torque, com direito a câmbio de três marchas tração 4×4.

De acordo com a Willys, o novo Rural Willys com motor nacional podia atingir velocidade máxima de 130 km/h. A aceleração de 0 a 100 km/h era feita em torno de 34 segundos.

Em 1960, o SUV brasileiro recebeu seus primeiros retoques visuais. Incorporou a nova carroceria projetada pelo designer americano Brooks Stevens, com uma nova dianteira bem mais moderna e harmoniosa, além de para-lamas mais encorpados.

Muitos dizem que a nova frente lembra o Palácio da Alvorada, em Brasília, se vista invertida. O Willys adotou também um para-brisa e vidro traseiro inteiriços.

A próxima grande novidade da Rural Willys foi a versão com tração 4×2, destinada para quem não precisava encarar trechos muito acidentados. Este modelo contava com a alavanca de câmbio na coluna de direção.

Posteriormente, passou a vir também com suspensão independente e molas helicoidais na dianteira no lugar do eixo rígido com feixe de molas.

Em 1965, ganhou limpador de para-brisa elétrico ao invés do sistema a vácuo, grade exclusiva para o modelo 4×2 e câmbio de três marchas com a primeira marcha sincronizada. Já em 1966, trouxe carburador recalibrado, roda-livre no Willys 4×4 e alternador.

No ano de 1967, a Rural Willys incorporava novas mudanças, como um novo painel de instrumentos posicionado na frente do motorista, coluna de direção com trava, novos pedais, câmbio de quatro marchas e um novo volante.

Em 1968, a Willys Overland do Brasil foi adquirida pela Ford. Porém, a linha de jipes foi mantida por um bom tempo. Por outro lado, os sedãs Aero-Willys e Itamaraty foram descontinuados pouco tempo depois.

Uma das primeiras mudanças da Rural Willys (que passou a ser chamado de Ford Rural em 1972) foi a introdução do motor 3.0 litros com carburador de corpo duplo herdado do Itamaraty. Ele conseguia gerar 140 cavalos de potência. Junto a ele, um câmbio de quatro marchas. Além disso, o SUV passou a ser vendido em duas versões de acabamento: Básica e Luxo.

Com a crise do petróleo, em 1973, o Ford Rural ganhou o motor 2.3 litros de quatro cilindros do Maverick para ficar mais econômico. Este propulsor era mais leve e entregava um bom desempenho mesmo com só 90 cavalos de potência.

Entretanto, com mais de 30 anos de mercado, o Rural já estava velho demais. O SUV deixou de ser produzido localmente em 1977 e, desde então, se posiciona como um dos carros mais desejados pelos entusiastas.

Além do Brasil e dos Estados Unidos, a Rural Willys foi fabricada em outros mercados, como no Japão, onde foi construído pela Mitsubishi com o nome de J37, e também na Argentina, onde foi produzido pela Kaiser e é conhecido como Estanciera.

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