Acordo muito cedo e, para evitar congestionamentos, saio de Vargem Grande para o Rio Ônibus, que fica na Barra da Tijuca, por volta de 5h50. No trajeto de 20,7 km, 5 quebra-molas, 38 semáforos e 18 pardais que multam por avanço de sinal e excesso de velocidade, ouço o Bom Dia Rio pelo celular, que deixo em volume alto para que o som supere os pi-pi-pis das buzinas das motocicletas que passam entre carros, ônibus e caminhões em trânsito lento. Esse trajeto poderia durar 25 minutos, mas, praticamente todos os dias, algum acidente envolvendo motociclistas atrasa a viagem.
Os noticiários trazem informações sobre o trânsito e os transportes públicos diariamente, para informar quem está saindo de casa. E não há dia em que não se noticiem acidentes com motocicletas causando retenções e engarrafamentos nas principais vias da cidade.
Nos últimos anos, o Brasil testemunhou um aumento expressivo no uso de motocicletas como meio de transporte. Esse tipo de deslocamento pode parecer prático, pode refletir mudanças nos padrões de consumo da população e ser uma alternativa para o desemprego, mas na prática é o maior causador de acidentes com vítimas e de congestionamentos.
O aumento da frota de motocicletas favoreceu o crescimento no número de acidentes envolvendo esses veículos. Só nos primeiros seis meses de 2024, as nove unidades emergenciais da cidade do Rio atenderam 5.724 pessoas envolvidas em ocorrências com motos, segundo a Secretaria Municipal de Saúde, o que representa uma mobilização significativa das emergências e depois de leitos hospitalares.
Os números reforçam: a combinação entre a falta de conscientização dos motociclistas, que costumam ignorar as leis de trânsito, e o uso crescente é preocupante para a segurança viária. Quem anda pela cidade observa motos andando pela contramão, nas calçadas, faixas e passarelas de pedestres. Vê motos avançando sinais, em velocidade excessiva e ziguezagueando no trânsito.
Quem nunca teve um espelho retrovisor abalroado por uma moto? Quem nunca foi ameaçado com gestos por motociclistas só porque seu carro invadiu um pouco a faixa exclusiva deles nos corredores entre carros? E não vou falar aqui de outro problema envolvendo motocicletas que aparece todos os dias no mesmo noticiário: o impressionante número de assaltos que tem motos como veículos de abordagem e fuga rápidas.
Na volta para casa, que leva em média 55 minutos, são 20,8 km, 5 quebra-molas, 39 semáforos, 17 pardais e os mesmos problemas com motocicletas.
Para combater isso, a alternativa mais eficaz e sustentável é estimular o uso do transporte público que, além de contribuir para a redução do número de veículos nas ruas, diminuindo congestionamentos e acidentes, ainda tem inúmeras vantagens dos pontos de vista ambiental e social. Promover o uso de ônibus e de outros modais de grande capacidade é uma estratégia inteligente para o desenvolvimento de uma cidade inteligente.