Quem são os grandes delinquentes desse País: os menores que furtam cordões e pulseiras das pessoas nas vias públicas ou os maus juízes, os gananciosos megaempresários e os políticos corruptos que provocam a miséria decorrente da concentração ilícita da renda?
Em ambos os casos apresentados, há ilicitude, não há dúvida alguma. Ambos os casos são condenáveis. Isso não se discute. A grande diferença reside no fato de que, na maioria das vezes, esses menores são produtos de uma equivocada política de assistência à criança e ao adolescente ou até de uma ausência de ações do poder público na prevenção dessas questões.
Por outro lado, um juiz que é flagrado, usando veículo de luxo de propriedade de um réu em processo no qual esse magistrado suspeito atua, os empresários que entram em conluio com diretores de órgãos públicos para desviar dinheiro do contribuinte que poderia ser destinado à saúde, à educação, à construção de casas, e à instalação de sistema de saneamento básico, assim como políticos citados em situações pouco recomendáveis como o caso do ex-governador do Rio de Janeiro, o atual Governador do Rio de Janeiro, o Governador do Acre, o Presidente do Congresso Nacional e o Presidente da Câmara dos Deputados, uma vez comprovadas as suas participações nos crimes, são casos muito mais deploráveis que os furtos cometidos pelos menores.
Uma criança e um adolescente que não tiveram a oportunidade de estudar e de alcançar os postos elevados na Sociedade, como um Juiz de Direito, um Parlamentar ou um Empresário de grande porte não podem ser tratados da mesma forma que esses cuja história de vida é rica em viagens, estudos em grandes universidades, maior capacidade de discernimento, contas bancárias de grande valor, seja no Brasil ou em paraísos fiscais.
Os crimes de furto cometidos por esses jovens prejudicam uma pessoa. Está errado o seu procedimento. Merece punição corretiva exemplar para que não voltem a delinquir, mas as velhas raposas da política suja, os gananciosos detentores do capital e os magistrados que têm caneta capaz de colocar alguém na cadeia devem ter exames diferentes, por uma questão de JUSTIÇA. Os crimes de quem tem mais escolaridade e, portanto, mais discernimento são mais lesivos à população e merecem penas mais fortes.
Penso que, quanto maior for a escolaridade, mais importância político-social e mais poder uma pessoa tiver, maior deva ser a sua pena em caso de transgressão da Lei que cause prejuízo à coletividade. Quem traz mais dano à Sociedade: aquele que furta um cordão de uma pessoa em via pública ou quem desvia dinheiro da saúde, da educação, das obras públicas, da segurança pública e dos outros serviços essenciais para a coletividade?
Há necessidade de a Sociedade ser menos hipócrita e avaliar a conduta de cada caso, ponderando de forma a concluir que os crimes cometidos contra a coletividade, contra o patrimônio público, como os que fomentam a pobreza, já que concentram a riqueza nas mãos de poucos e levam à miséria milhões e milhões de brasileiros, são mais perversos e devem ser punidos com maior rigor.
Há uma máxima popular que afirma: O exemplo deve vir de cima. Isso significa que, se um prefeito, um governador, um juiz de direito, autoridades em geral, artistas de renome e religiosos de grande apelo cometem delitos, o que se deverá esperar de crianças e adolescentes, sem perspectivas e sem amadurecimento?
Em um País em que a impunidade passou a ser rotina; em que a corrupção passou a ser aplaudida pelos governantes, como se viu em 13/03 nos atos promovidos pelas centrais sindicais apoiando os corruptos denunciados pela Operação Lava Jato e os condenados do mensalão, em que levar vantagem em tudo é sinal de esperteza e de malandragem; em que o honesto passa ser um otário, um bobalhão, um nerd; em que a ascensão social é produto de golpes nos parentes, nos sócios e nos amigos, em que as telenovelas propagam, em horário nobre, que só se tornam felizes os que praticam o que é errado, atingindo a quase totalidade dos lares, como esperar que uma criança e um adolescente sem pais ou responsáveis, sem escola, sem a menor atenção do Estado e da Sociedade, sem perspectivas de um futuro emprego possam reconhecer nas pessoas gente como elas?
Essas crianças vivem em um Brasil que não lhes pertence e, o que é pior, em um País que não lhes dá a menor importância, a não ser quando elas cometem desvios de conduta, momento em que certos idiotas da Mídia, apresentam-nas em seus programas televisivos, submetendo-as ao ridículo, ainda que, por força de Lei, não lhes possam mostrar a face. Esses mesmos levianos propagam a ideia de que o lugar delas é na cadeia, quando deveriam cobrar do Estado a devida e constitucional responsabilidade e afirmar que o lugar delas é na Escola.
O que estamos fazendo para amparar essas crianças e esses adolescentes? Eles só ouvem dos comunicadores de massa pela TV, dos que não têm sensibilidade, dos que não pensam, dos que não raciocinam com um pingo de amor ao próximo e de parte da sociedade descomprometida com as causas sociais que a solução para os seus problemas é PRISÃO E CASTIGO SEVERO.
Nenhuma palavra de alento; nenhuma ação construtiva que possa lhes oferecer esperança em dias melhores elas têm a oportunidade de ouvir dos adultos que dirigem esse País, esse Estado ou esse Município. Só as ações repressivas são a tônica de suas vidas. Quando capturadas pelos brutamontes do Poder, são atiradas em depósitos humanos ou sub-humanos, nos quais não têm a menor possibilidade de se recuperar, por absoluto descaso do Poder Público e da Sociedade.
Em lugar de cobrarmos do Poder Público o tratamento digno para as crianças desamparadas, dando-lhes assistência, através de oportunidades na escola, tratamento na saúde, lazer, esporte, cultura e, portanto dignidade, diminuindo o seu sofrimento, estamos tentando lhes dar PRISÃO, CHICOTE, LANÇAMENTO EM DEPÓSITOS FÉTIDOS, DESUMANOS, NÃO RESSOCIALIZADORES E CRUÉIS.
Quem são os verdadeiros delinquentes? Quem produz a miséria e a injustiça social ou quem é vítima dessas práticas de concentração de renda e do enriquecimento célere e ilícito que estão enchendo o noticiário, nos últimos doze anos, e que ainda encontram apoio em parte da Mídia comprometida e na omissão vergonhosa de todos nós, brasileiros do Bem, que a tudo assistimos e nada fazemos para reduzir essas desigualdades e para cuidar de nossas crianças o que corresponde a cuidar do futuro desse pobre País.