Você já parou para pensar onde o seu amor cabe?
Há um silêncio que só os animais entendem. Um olhar que não precisa de palavras, um afago que não exige explicações. E, nesse silêncio, muitas mulheres têm encontrado um refúgio. Mas será que os pets estão ocupando o lugar dos filhos? Ou, quem sabe, o lugar do outro?
Vivemos tempos de desapego. Os casamentos, outrora eternos, hoje se dissolvem como nuvens passageiras. As uniões duram menos, e os votos de “para sempre” parecem ter sido substituídos por um “por enquanto”.
Paralelamente, cresce um coro de vozes que ecoam: “Não quero ser mãe”, “Não quero ser pai”, “Não quero ser responsável por outra vida além da minha”. E, junto a isso, surge o movimento single – uma escolha consciente pela solidão, ou melhor, pela autonomia.
Mas será que estamos mesmo sozinhas? Ou estamos apenas trocando a complexidade das relações humanas pela simplicidade afetiva de um cachorro que nos espera em casa, com o rabo abanando, ou de um gato que nos observa de longe, respeitando nossos silêncios?
Os pets não traem. Não discutem. Não exigem explicações. Eles nos amam de forma incondicional, sem julgamentos, sem cobranças. E, em um mundo onde o autocuidado virou quase uma obsessão, onde precisamos ser jovens, bonitas, produtivas, saudáveis e emocionalmente estáveis, será que ainda temos espaço para o outro? Para um parceiro que pode nos decepcionar? Para um filho que, na adolescência, pode nos olhar com indiferença?
A verdade é que criar filhos e manter relacionamentos exige uma energia psíquica que, muitas vezes, parece escassa. Cuidar de si mesma já é uma tarefa hercúlea. Somos cobradas no trabalho, na aparência, na terapia, na academia, na vida social. E, no meio desse turbilhão, o amor de um pet parece mais seguro, mais previsível, menos arriscado.
Mas será que não estamos perdendo algo ao nos fecharmos para a demanda do outro? Será que não há beleza no imprevisível, na troca, no confronto, no desafio de amar alguém que não é totalmente controlável?
Talvez possamos pensar em vínculos mais leves, mais criativos, menos carregados de expectativas. Relações que não precisam ser perfeitas para serem potentes. Afinal, o amor humano, com toda a sua complexidade, também nos transforma. Ele nos tira da zona de conforto, nos faz crescer, nos ensina a lidar com a frustração e a celebrar a diferença.
E os pets? Eles continuarão aqui, nos olhando com aquela fidelidade que só eles sabem oferecer. Mas talvez possamos abrir espaço para ambos: para o afago silencioso de um gato e para o abraço desajeitado de um filho. Para o olhar fiel de um cachorro e para o diálogo desafiador de um parceiro.
No fim das contas, o amor não é uma equação matemática. Ele cabe onde há espaço, seja no colo de uma mulher, no olhar de um animal ou no coração de uma família que, mesmo imperfeita, insiste em existir. E você, já parou para pensar onde o seu amor cabe?