O VÍCIO QUE ROUBA VIDAS E O SILÊNCIO QUE TAMBÉM MATA

07/06/2025 |
Assunto: , Comportamento, Games

Jogo não é entretenimento quando a conta é paga com a alma dos mais vulneráveis

RossandroK20250607Você já reparou como, de repente, todo mundo está apostando?
O que antes era visto com desconfiança, hoje aparece como entretenimento. Aplicativos sedutores, promessas de dinheiro fácil, influencers sorrindo, jingles vibrantes.
E do outro lado da tela, gente real, perdendo tudo. Especialmente os mais pobres.
Gente que já vive no limite emocional, financeiro e existencial.
Gente que agora vê no jogo a última chance de uma virada de sorte. Quando na verdade, está entrando num sistema feito para tirar mais do que devolver.

Mas o que leva alguém a cair nessa armadilha?
Não é só o desejo de ganhar dinheiro. É a ilusão de controle, a fuga da dor, o alívio momentâneo da ansiedade.
Cada aposta acerta não só o bolso, mas uma parte da psique. É o mesmo mecanismo do vício em substâncias: dopamina rápida, prazer curto, culpa longa.
E há algo perverso nisso tudo: os jogos não estão apenas acessíveis, estão formatados para viciar. Recompensas intermitentes, animações chamativas, sensação de quase vitória. Tudo isso ativa no cérebro um ciclo viciante que faz a pessoa continuar jogando mesmo quando já perdeu tudo.

E onde está o Estado nisso?
Autorizando. Incentivando. Lucrando. Da direita à esquerda, a maioria dos parlamentares aprovou a liberação das chamadas BETS, ignorando os impactos sociais devastadores.
Transformou o desespero popular em produto tributável. Legalizou o vício sem oferecer acolhimento, prevenção, educação ou suporte psicológico.
Chamou de economia o que, na prática, é exploração emocional e financeira.
Enquanto isso, famílias se endividam. Jovens adoecem. Crianças assistem e naturalizam.
E tudo vira normal, até alguém tirar a própria vida.

Mas essa coluna não é só denúncia
É também abraço. Se você caiu nessa armadilha, você não está sozinho.
Isso não é falta de caráter. É sinal de que algo dentro de você está tentando anestesiar uma dor que talvez nunca tenha sido ouvida.
Mas ouça isso agora: Você não precisa continuar se ferindo para tentar se sentir vivo.
Peça ajuda. Fale com alguém de confiança. Procure grupos de apoio, terapia, serviços públicos de saúde mental.
Você é mais do que os boletos vencidos e os quase acertos que nunca chegam.

Para todos nós, fica o alerta
A promessa do ganho rápido é sempre vendida por quem já está ganhando demais.
E o preço, quase sempre, é pago com a alma de quem tem menos.
Jogo não é solução. Não para a fome, não para a angústia, não para a solidão.

E a pergunta que fica é:
Quantas vidas ainda serão destruídas antes que o país perceba que legalizar o vício é institucionalizar a negligência?

Rossandro Klinjey
Psicólogo | Palestrante | Escritor

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