Há tocos por todos os lados, a sanha da serra elétrica da prefeitura anda furiosa

Foto: Árvore afetada por poda agressiva no canteiro central da Avenida Padre Leonel Franca na Gávea

Uma nova atração de mau gosto surgiu na paisagem do Rio: uns cotocos de árvore, vítimas de poda assassina. Na Bartolomeu Mitre, entre o Miguel Couto e o Jockey, sobrou um cotó de árvore. Não precisa rodar muito pela cidade. Na Lagoa. Na Gávea. No Jardim Botânico. Na Barra. No Aterro. No Centro. Na Freguesia em Jacarepaguá. Os tocos estão por todos os lados. No mês em que perdemos Sebastião Salgado, às vésperas da COP30, a sanha da serra elétrica da Prefeitura do Rio anda furiosa.

Há algumas semanas, domingo de sol, passeava com o cachorro quando vi três homens, sem uniforme, ceifando uma árvore frondosa ao lado da minha casa. Como estava com paciência, comprei a briga. Perguntei se eles tinham licença para estar ali e fazer o que estavam fazendo. Eles riram. Como eu estava com paciência, chamei a polícia. A viatura chegou, os policiais foram para o fundo do terreno, onde não fui autorizado a entrar. O que eles botaram no bolso eu não vi, mas qualquer carioca é capaz de supor. O policial me disse que estava tudo legal e que a árvore podia ser derrubada porque estava doente.

“Doente? Essa árvore tá mais saudável que eu e o senhor juntos!”, argumentei. Como estava com paciência, perguntei o que ele tinha ganhado para ter essa opinião, ele questionou o que eu estava insinuando, o clima esquentou, ele ameaçou me levar para a delegacia. Resultado: quem quase acabou preso fui eu.

Semana passada, a árvore linda que vivia na porta do Shopping da Gávea virou um bonsai. Um cotoco mal cortado, mais uma vítima da fúria dos podadores. Como eu estava com paciência, interpelei os rapazes encarregados do esquartejamento. “A árvore está atrapalhando os fios dos postes”, me explicaram. “Mas a árvore chegou antes, né?”, tentei. O rapaz coçou a cabeça sem entender onde eu queria chegar. “Precisa cortar tanto?”, insisti. “É para não ter que voltar tão cedo.” A paciência acabou.

Fotos: Antes e depois. Estrada do Bananal na Freguesia – Jacarepaguá

Prefeito Eduardo Paes, já que outro dia o senhor trabalhou com uniforme da Comlurb, órgão sob sua responsabilidade, converse aí com a rapaziada para pegar leve na serra elétrica. Antes que os tocos de árvores do Rio sejam o legado mais visível do seu mandato.

Fonte: O Globo
Gustavo Pinheiro
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