Inacreditável! Um lindo abajur de cúpula de vitral, custa somente, nove mil e uns quebrados! Lindo! Divino! Elegantíssimo!
Unbelievable! A moçada toda foi lanchar hamburger – vocês sabem onde – considerando-se, sem dúvida, verdadeiros “gourmets”.
E eu ali. Pensando na escassez de dinheiro em minha conta bancária, precisando de alguns itens caros consciente de que mês que vem os preços serão praticamente o dobro; deliciando meus olhos com o insuperável mundo do supérfluo.
O brilho das inutilidades faiscando diante de meus olhos estupefatos. Sou uma criatura sem chances de sobrevivência: minha capacidade de adaptação ao habitat é pequena. Imaginem que, até hoje, eu só vou as compras quando preciso de algo. Vou fazer um bom seguro de vida e preparar o testamento. Sou um ser em extinção.
Habitualmente eu penso. Penso muito. Aliás, já vivi épocas da minha vida em que desejei, sinceramente, pendurar minha cabeça pensante num cabide e sair por aí curtindo a vida. A fada madrinha não veio e eu continuei pensando. Hoje, naquele shopping, eu não conseguia pensar. Vestidos, relógios, equipamentos, louças, calcinhas, canetas etc. E os produtos a convidar meus olhos. E os meus filhos a dizer: Mamãe, compra?
A lucidez voltou subitamente ao ver aquele senhor, bem vestido, interessadíssimo no funcionamento e preço da graciosa tesourinha curva, para aparar pelos das narinas.
Lúcida! Plenamente lúcida! Apesar da dúvida, esta história de pensar/não pensar, a tal de sociedade de consumo será consequência ou causa?