Um grupo de médicos estrangeiros decidiu passar as férias no Brasil. Não se interessaram
por visitar o Pão de Açúcar, nem quiseram desfilar na Avenida. Vieram para fazer
cirurgias gratuitas entre os membros pobres da sociedade
Continuo sem entender o motivo de não serem estes médicos capa de todas as revistas, causa de entrevistas fantásticas, convidados para programas de entrevista e mais apresentados e proclamados que os big (pequeníssimos) brothers de por aí.
Conversando com um amigo, surgiram comentários sobre a utilidade do Projeto Rondon, que só existiu durante um breve tempo do passado, quando alunos universitários foram prestar serviços nas áreas carentes do país. É um assunto que me fascina. Aqui vou eu outra vez, na esperança que um ministro da cultura, do desenvolvimento social ou qualquer outro que tenha um pouco de juízo venha a ler e implementar um projeto assim no Brasil.
É simples. Um dos grandes problemas do ensino moderno é que os alunos diplomados não se sentem, de fato, preparados para exercer suas funções na área escolhida: nossas universidades primam pelo academicismo, em detrimento de trabalhos práticos, que deveriam ser, penso eu, um dos pontos altos do ensino acadêmico. Os jovens, coitados, penam para conseguir um estágio, onde são ou totalmente explorados ou solenemente ignorados pelos empregadores. E o futuro sofre com profissionais pouco qualificados, inseguros, que não sabem direito o que fazer a partir do momento da formatura.
O ensino, tanto o público quanto o privado, tem um custo social. Custo social é o valor gasto pela sociedade, como um todo, para manter uma criança na escola, um doente no hospital ou um prisioneiro na penitenciária. Estes gastos não aparecem em nossos orçamentos domésticos, mas estão lá, em forma de impostos. Aceitamos gastar com nossos doentes, afinal, já estão sofrendo muito com seus males. Os prisioneiros, bem, sou totalmente favorável a que exerçam funções úteis – como pintar prédios públicos, consertar móveis de escolas etc., mas o tema não é detentos. Os nossos jovens são o assunto de interesse.
Imaginem que o diploma só pudesse ser recebido depois de seis meses de atividade prática num recanto desfavorecido do país. Um professor, devidamente remunerado, e 10 alunos, de diversas áreas, seriam encaminhados para um local esquecido por Deus. Lá teriam, gratuitamente, moradia e alimentação, além de meio salário só para comprar o básico. Nestes seis meses eles apresentariam e implementariam um projeto prático de melhoria para a vida daqueles cidadãos desfavorecidos.
Gente, quando eu me lembro da energia, vitalidade, idealismo, gana de fazer algo que valesse à pena nos meus anos de juventude! Quanto poderia ter feito! Será que os jovens de hoje não vibrariam ao perceber que o diploma de hotelaria serviu para ensinar às donas de casa o valor da higiene na cozinha; os de comunicação social poderiam projetar algum utensílio útil para facilitar a vida deles, além de escrever um super-artigo sobre a situação real daquela gente e enviá-lo para um jornal de grande circulação; o jovem médico poderia diagnosticar incontáveis males e minorar o sofrimento de muitas pessoas. E assim por diante. Não consigo imaginar uma profissão que não tivesse alguma utilidade prática a ser oferecida aos brasileiros que não têm nada.
Um grupo de médicos estrangeiros decidiu fazer turismo social e salvarão vidas. Quem dera nossos jovens tivessem que ter um diploma social ajudando a tantos e salvando a si mesmos!
E se você, leitor amigo, duvidar da minha boa intenção e resolver questionar: E você, Glenda, o que é que você faz? Vou responder, serena: Escrevo estes artigos na esperança que estes alertas toquem o coração de um ou dois e as coisas, paulatinamente, comecem a mudar, como mudaram os planos de férias destes sábios médicos estrangeiros.