O esôfago é um órgão tubular predominantemente muscular, que através de ondas de contração chamadas peristalse, leva fragmentos alimentares provenientes da mastigação ao estômago. No estômago e intestino (duodeno) esses alimentos sofrem a ação do ácido clorídrico e da bile no processo de digestão. Quando o esôfago sofre a agressão desse ácido ou da bile, dizemos que há presença de refluxo. O refluxo, além de outros fatores associados ou não a ele, pode gerar uma inflamação do esôfago, principalmente em sua região mais distal, na área de transição deste com o estômago, podendo levar a uma substituição das células escamosas estratificadas do esôfago por outras mais resistentes. Quando essa substituição é feita por células colunares contendo células intestinalizadas (metaplasia intestinal), denominamos essa alteração de Esôfago de Barrett.
Estima-se que 3 a 5% dos pacientes portadores de Doença do Refluxo Gastro-Esofágico tenham Esôfago de Barrett. Diversos trabalhos demonstraram que os portadores de Esôfago de Barrett apresentam refluxo ácido intenso. São reconhecidos dois mecanismos para explicar este fato: a incompetência do esfíncter esofagiano inferior (região “anelar” entre esôfago e estômago) cuja pressão encontra-se significativamente menor (facilitando a passagem do refluxo); e a também significativamente menor amplitude das ondas de contração do esôfago distal (peristaltismo ineficaz).
Os sintomas mais freqüentes dos pacientes com Esôfago de Barrett costumam ser a queimação atrás do peito, a regurgitação e a dificuldade de engolir; mas 6 a 20% dos casos podem ser totalmente assintomáticos.
O Esôfago de Barrett pode ser diagnosticado em qualquer idade, inclusive em crianças, embora seja mais frequente em indivíduos na sexta e sétima décadas de vida. Observa-se clara predominância do sexo masculino e da raça branca. Outras variáveis associadas são a Hérnia de Hiato maior que 4cm de extensão, episódios de refluxo ácido maior que 5 minutos, sintomas de Doença do Refluxo Gastro-Esofágico com duração acima de 5 anos e alterações na motilidade esofágica ou no tônus do esfíncter esofagiano inferior.
O diagnóstico de Esôfago de Barrett é realizado através do exame endoscópico que demonstra a presença de área de cor salmão ou rósea, semelhante ao revestimento das células da mucosa gástrica na região distal do esôfago, cuja biópsia do local apresenta o epitélio de substituição de característica colunar com células intestinalizadas (metaplasia intestinal). Estas biópsias são indolores e não costumam trazer complicações.
O aspecto mais importante a ser considerado nesses casos é o risco potencial de desenvolvimento para Adenocarcinoma de Esôfago. Existem dois tipos de câncer de esôfago : o escamoso e o adenocarcinoma. O escamoso ocorre principalmente nos fumantes e consumidores de bebida alcoólica em excesso. Este tipo de câncer não está tendo um aumento de sua frequência ao contrário do adenocarcinoma. Estima-se que a incidência de Adenocarcinoma no Esôfago de Barrett varie de 1:146 a 1:184 pacientes/ano de seguimento. O risco varia de 0,2 a 2,1% ao ano (em pacientes sem displasia), o que representa incidência 20 a 125 vezes maior que a população em geral.
Em função desse risco maior de desenvolvimento do Adenocarcinoma, recomenda-se além do tratamento de controle clínico dos sintomas com inibidores da bomba de prótons, o seguimento por meio de exame endoscópico e biópsias a cada 12 meses.
A presença de displasia (neoplasia intraepitelial = neoplasia restrita à membrana basal da célula) no exame histopatológico nos alerta para um acompanhamento mais cuidadoso. Nos portadores de displasia de baixo grau, a endoscopia com biópsia deve ser realizada a cada 6 meses. Já os portadores de displasia de alto grau (carcinoma intramucoso) com confirmação de 2 patologistas, devem ser avaliados quanto a melhor abordagem, podendo ser indicado o tratamento cirúrgico com ressecção do esôfago distal, devido ao alto risco de desenvolverem o Adenocarcinoma de Esôfago.
Se após ler esta matéria ainda persistirem dúvidas quando lhe indicarem um exame ou procedimento endoscópico, marque uma consulta com um gastroenterologista para maiores esclarecimentos.
Fonte: Jornal Condomínios Em Foco 75
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