A Hidra, na mitologia grega, era um monstro, que habitava um pântano. Ela tinha corpo de dragão e várias cabeças de serpente. Segundo a lenda, as cabeças da Hidra podiam se regenerar; algumas versões dizem que, quando se cortava uma cabeça, cresciam duas em seu lugar.
A Hidra era tão venenosa que matava os homens apenas com o seu hálito e os comia.
Se alguém chegasse perto dela enquanto ela estava dormindo, apenas de cheirar o seu rastro a pessoa já morria em terrível tormento
Nosso pobre país vive nas mãos de poderosíssima hidra, o mitológico monstro de sete cabeças. Fernando Henrique Cardoso conseguiu abater a primeira e mais forte das cabeças: a inflação. Seu esforço teria sido recompensado, se os governos seguintes tivessem continuado a luta incessante contra a poderosa criatura.
O presidente Lula tentou combater a terceira cabeça, mas foi devorado pela segunda cabeça: a corrupção. Tentando, ou parecendo tentar, resolver o problema da fome no Brasil, Lula permitiu que a corrupção assumisse proporções vertiginosas, cujas consequências nos atingem até hoje e que acabou impedindo a luta necessária para combater a terceira cabeça.
Quem é esta terceira cabeça? A injustiça social. Enquanto houver a corrupção descarada que existe no Brasil, a justiça social não acontecerá. Assistimos a isto todos os dias e desesperamos ao ver que pessoas são depositadas em corredores dos hospitais, enquanto nossos governantes oferecem banquetes regados a champanhe e caviar; sentimos profunda revolta ao ver que o salário mínimo sobe em R$9,00 por ano e o dos políticos e magistrados quase que dobram de valor.
A quarta cabeça passou despercebida do povão durante muito tempo, mas, de uns tempos para cá, leis, juízes e julgamentos entraram para a pauta do dia. Atônitos nos perguntamos: Como pode ter roubado tanto e continuar livre? É possível uma pessoa acusada de assassinato continuar recebendo salário de deputado e votando nossas leis? Quantas vezes uma pessoa precisa ser julgada até que a condenação seja irreversível? Quantos recursos existem para que o culpado escape da lei? Sendo um dos mais perigosos aspectos desta quarta cabeça temos o malfadado foro privilegiado que garante a corrupção e a impunidade de nossos governantes.
A cabeça número cinco é a que provoca a maior tristeza em nossos corações: tanta politicagem, apadrinhamento, escolhas feitas por interesses políticos sem levar em conta a capacitação dos componentes do grupo de responsáveis vemos a educação brasileira sendo sucateada; tanto talento desperdiçado; tantas oportunidades perdidas; tantos sonhos estraçalhados por falta de oportunidade.
A sexta cabeça tem longas garras, dentes pontiagudos, ameaça e aterroriza a todos: segurança pública. Policiais mal pagos que acabam se envolvendo com bandidos. Policiais mal treinados e mal equipados que vão trabalhar tendo tanto medo quanto o povo que devem proteger. Policiais manipulados por forças políticas escusas. Policiais que se esforçam para prender bandidos e acabam vendo os meliantes sendo soltos por este ou aquele detalhe legal que os colocam de volta na rua. Acoplado à segurança pública está a impunidade: impunidade de bandidos e de policias corruptos e violentos.
Finalmente a mais vergonhosa de todas as cabeças: desperdício. Pelo tanto que é roubado e desperdiçado no Brasil, devemos ser o país mais rico do mundo! Desperdiçamos vidas, talentos, materiais, florestas, equipamentos médicos, lanches escolares, prédios, material de construção etc. Desperdiçamos tudo. Desperdiçamos por falta de interesse, por causa da corrupção, devido ao apadrinhamento político, por pura incompetência e, lamento informar, por burrice.
O herói grego, sozinho, conseguiu derrotar o monstro. Infelizmente temos uma mania muito perigosa de acreditar nos heróis que prometem resolver tudo com uma estocada só. Nossos heróis já mostraram sua incapacidade de derrotar sequer uma destas cabeças. Não há um herói capaz de exterminar a nossa terrível hidra brasileira. Só há uma solução possível – cada um de nós assumir a responsabilidade de combater este terrível monstro.
Combatê-la nas pequenas ações do dia a dia e no policiamento constante das ações de nossos governantes. Difícil tarefa, mas temos que continuar tentando e temos que aprender que se nossos governantes são tão ruins, corruptos e alienados é porque, cada um de nós, como cidadãos, também agimos de forma errada, corrupta e alienada.