Entre uma golada e outra do cafezinho, tomei coragem e perguntei o que ele estava fazendo aqui, em pleno sábado. “Vim trazer minha menina pra estudar”. Ali meu olho já estava cheio d’água! Não falei nada e esperei ele continuar a contar a história.
Chego para trabalhar hoje cedo e vejo um senhor sentado em um dos sofás do hall da faculdade. Ele lá, sentado sozinho, de calça social, camisa polo idêntica ao uniforme dos correios e um bonezinho simples. Ao lado dele, umas sacolinhas e apenas na companhia de um livro sem luxo algum, surrado, amarelado. Descobri depois que era Os Provérbios de Salomão. Fiquei curioso para saber quem era aquele senhor, qual era sua história (uma vez jornalista, sempre jornalista!).
Passei algumas vezes por ele, dei bom dia e ele me perguntou em uma dessas passadas, que horas era o café dos alunos de um curso preparatório que está acontecendo em salas locadas aqui, respondi que deveria ser por volta das 09h30.
Nesse meio tempo, convidei o senhor para tomar um cafezinho e imediatamente ele responde: Uai! Cafezinho é sempre bão!
Hábito de pessoas mais velhas (e que infelizmente se perdeu ao longo do tempo) antes de entrar na sala, ele tirou o boné da cabeça. Lembrei na hora do meu avô, que tinha o mesmo hábito, só que com o seu bom e velho chapéu.
Sentamos na sala dos professores. Ele meio sem jeito, serviu uma xícara de café e se sentou comigo para dois dedos de proza. Me apresentei a ele e ele se apresentou. Se chama Antônio Expedito de Oliveira, 65 anos, morador do bairro Dona Rosa, criado na roça, filho de um pai que trabalhava todos os dias na fazenda do Sô Cassiano, que exigia que seus funcionários já estivessem na labuta antes do sol raiar, sob pena de ter de voltar pra casa se chegasse fora do horário.
Entre uma golada e outra do cafezinho, tomei coragem e perguntei o que ele estava fazendo aqui, em pleno sábado. “Vim trazer minha menina pra estudar”. Ali meu olho já estava cheio d’água! Não falei nada e esperei ele continuar a contar a história. “Minha filha faz um curso durante a semana e agora estou pagando pra ela fazer mais esse. Já tô no final da minha vida mesmo e o que eu posso deixar para meus filhos é a educação”. Brinquei com ele, falando que ele estava muito melhor do que nós, no alto dos seus 65 anos, forte, sereno e de sorriso sempre no rosto.
Ficamos ali contando histórias (mais ele do que eu). Só olhava com mais admiração para aquele pai que se propõe a investir tempo e dinheiro nos seus frutos, no seu legado por aqui. Como isso é raro ultimamente!
Ouvimos o barulho aumentando no hall. Eram os alunos que desciam para o café. Eu tinha que liberar o Seu Antônio para que ele pudesse levar a lata de Coca-Cola e o salgado que ele comprou pra filha comer.
Mas antes peguei na mão do senhor Antônio Expedito de Oliveira, 65 anos, morador do bairro Dona Rosa, criado na roça, filho de um pai que trabalhava todos os dias na fazenda do Sô Cassiano, que exigia que seus funcionários já estivessem na labuta antes do sol raiar, sob pena de ter de voltar pra casa se chegasse fora do horário e disse a ele: Seu Antônio. O senhor me emocionou muito com a sua história e o seu exemplo. Tenho certeza que seus filhos sentem um orgulho enorme do senhor e talvez eles ainda não tenham tido a coragem de dizer isso pro senhor, mas que sentem, sentem sim. Obrigado pelo papo e pela companhia no café. Volte mais vezes.
Nos despedimos. Quando sentei na minha mesa para atender um aluno, não conseguia tirar um pensamento da cabeça: A palavra convence, mas o exemplo arrasta!
Ganhei o final de semana!
Fonte: Administradores
Leonardo Rodrigues