O conceito básico da reciclagem é transformar algo sem utilidade e que é descartado em matéria-prima ou produto, que pode ser igual ao anterior ou sem nenhuma relação com o mesmo. Reciclar é preservar o meio ambiente e combater a destruição descontrolada de seus recursos naturais, garantindo melhores condições de vida, reduzindo o desmatamento e a poluição, evitando o descarte irregular de lixo em rios, florestas e no oceano, além de garantir também a preservação das espécies que lá habitam.
Mas se já é difícil uma pessoa começar a reciclar, para um condomínio que envolve muito mais gente é ainda pior. A reciclagem pode ser uma iniciativa que não se limita às questões de conscientização ambiental, podendo se tornar algo suficientemente e satisfatoriamente rentáveis, gerando recursos extras que podem ser facilmente aplicados dentro destas comunidades. O passo mais difícil e importante é reunir os condôminos e convencê-los da real necessidade e dos benefícios que a reciclagem pode trazer.
Camila Bortoletto, gerente de projetos da Contemar Ambiental, uma empresa especializada em separação e coleta de lixo para reciclagem, afirma que é preciso fazer um trabalho de conscientização:
– Importante em um projeto de coletiva seletiva é trabalhar a conscientização, engajamento para ação do morador, pois reciclagem depende muito disso. Além da parte do condômino, o importante é o condomínio dar o suporte para que o morador possa fazer sua parte, tendo locais apropriados para resíduos recicláveis e para rejeitos (os que não reciclam) de forma distinta e bem identificado para orientar o condômino.
Apesar de toda a dificuldade, alguns condomínios já possuem, mesmo que de forma parcial, a ideia de reciclagem implantada. Como mexer com resíduos pode ser perigoso, algumas regras devem ser seguidas e cuidados devem ser tomados por precaução. Alguns produtos, como papel, são altamente inflamáveis e o menor descuido pode provocar um incêndio. Outro cuidado é com a localização dos recipientes de armazenamento deste lixo, pois, se não for feito de forma correta, pode provocar mau cheiro e atrair a presença de vetores, como ratos, baratas e até urubus.
O ponto de partida é definir quais materiais serão coletados, bem como a conscientização, não só de moradores, mas também de funcionários, para a separação e direcionamento correto de cada tipo de material. É necessário avaliar as condições do condomínio e a quantidade de lixo produzido para implantar os espaços de armazenamento, geralmente lixeiras com a devida identificação do material a ser coletado e o tamanho dos mesmos. Se for contratada uma empresa para realizar o serviço de coleta, por garantia, os condomínios podem efetuar um seguro contra acidentes para cada tipo de material. A missão não é simples, mas também não chega a ser tão complicada quanto parece. A presença de um líder, geralmente um síndico, é extremamente importante para nortear as tarefas e fazer com que todos recebam as devidas orientações.
Camila fala sobre a importância de uma coleta feita de forma correta e como este processo ocorre:
– Estando separados e em equipamentos específicos para isso, a coleta pode ser feita de forma mecanizada, dependendo da estrutura da cidade, sendo que o resíduo reciclável é encaminhado as centrais de triagem e posterior retorno ao processo industrial, voltando a ser matéria prima. O rejeito, que não se recicla, esse, na maioria das cidades, é encaminhado a aterros sanitários. O problema é quando a cidade não tem um aterro para disposição e esses resíduos acabam indo para lixões, não havendo nenhuma barreira projetada a fim de proteger a saúde pública e ao meio ambiente – e completa sobre o destino final destes materiais:
– Volta a ser matéria prima, normalmente, excetuando o vidro e o alumínio, retornando para outro uso. Uso em material não nobre, como embalagens para alimentos, por exemplo.
Existem algumas formas de se realizar este planejamento de coleta de resíduos para reciclagem dentro destes grupos de moradores. Uma forma, que pode ser lucrativa, é através da venda dos materiais coletados. Um ou mais representantes do condomínio fica responsável pelo transporte dos recicláveis e os vende em locais específicos, gerando um orçamento, mesmo que pequeno, para utilização em outras áreas de necessidade da comunidade, de lazer, entre outros. Outra possibilidade que pode ser rentável é através da reutilização e fabricação caseira. Em vez de jogar fora determinados materiais, como caixas e garrafas, por exemplo, pode-se criar objetos úteis ou apenas decorativos com dicas que podem ser encontradas facilmente na internet, o famoso “faça você mesmo”, da sigla em inglês DIY. Estes produtos feitos em casa podem até ser vendidos e gerar uma renda extra.
Mas para os moradores que não possuem essa motivação de colocar a mão na massa, existe uma outra alternativa. Por mais que haja um investimento sem retorno financeiro, pensando exclusivamente em melhor qualidade de vida e no bem-estar da natureza, existem empresas especializadas na implantação de coleta seletiva e na gestão consciente de resíduos. São empresas que oferecem um planejamento específico para cada condomínio, viabilizando a coleta. A relação custoXbenefício é satisfatória, pois o processo se torna mais eficiente e o custo não é tão elevado para o retorno e qualidade que traz ao ambiente de convívio nos prédios. Outro ponto positivo é que dá mais comodidade aos moradores, visto que estas empresas ficam responsáveis por todos os processos, desde a implantação e infraestrutura dos equipamentos, até a coleta periódica dos materiais destinados aos centros de reciclagem, além de oferecer treinamento, palestras, apresentar relatórios mensais de desempenho e entregar certificado de destinação correta aos envolvidos.
O importante é que a ideia de conscientização tem saído do papel para se tornar uma realidade cada vez mais comum dentro dos condomínios. Conhecer este lado ecologicamente correto dos empreendimentos pode ser uma carta na manga para o corretor de imóveis, tendo em vista que é um tema que tem a simpatia da maioria das pessoas e transmite a sensação de empenho e união da comunidade em que o cliente gostaria de viver.
Fonte: Stand Edição 43 – Revista do Creci-RJ