O estilo de vida saudável como política pública de saúde

30/04/2019
| Colunista: , Gilberto Ururahy
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Assunto: , Comportamento, Medicina, Saúde

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MEDICINA PREVENTIVA
Prevenção é valorização da vida

Como cidadão e médico, há décadas dedico-me à medicina preventiva e fico na imensa expectativa de ver a prevenção como base das políticas de saúde federal e estaduais. Uma campanha nacional, por exemplo, de estilo de vida saudável traria impactos positivos tanto para saúde, com o desafogo em hospitais e clínicas de casos que podem ser evitados, quanto para a economia.

Infelizmente, no Brasil, a cada minuto morre uma pessoa por causa de uma doença cardiovascular. Vivemos essa triste realidade em nosso dia a dia. Quase todo mundo teve algum amigo, parente ou conhecido que faleceu após enfartar. O que torna esse quadro ainda mais doloroso é saber que 80% dessas ocorrências poderiam ser evitadas simplesmente adotando um estilo de vida saudável, aprendendo a ter uma alimentação equilibrada, praticando atividades físicas aeróbicas regularmente e valorizando uma boa noite de sono.

Hábitos esses que não são difíceis de serem implementados em nossa rotina, mas, infelizmente, as pessoas costumam culpar a falta de tempo e o corre-corre do dia a dia pela displicência com o cuidado com a própria saúde, contribuindo para o surgimento de enfermidades, como a hipertensão arterial, diabetes, alta taxa de colesterol e obesidade. Muitos convivem ainda com altos índices de estresse, um dos principais fatores de risco para a incidência de doenças crônicas. Esse quadro também reflete em barreiras para o aumento da produtividade.

Qualquer gestor de empresa sabe que o estado de saúde interfere no desempenho do profissional. Então, como um país pode pensar em crescer, quando, segundo dados do Ministério da Saúde, o diagnóstico de diabetes passou de 5,5%, em 2006, para 8,9%, em 2016. O de hipertensão, no mesmo período, saiu de 22,5% para 25,7%. Já uma pesquisa da Universidade de Brasília constatou que 70% dos brasileiros sofrem de estresse crônico e, desse total, 30% apresentam a síndrome de Burnout, que provoca um esgotamento físico e emocional.

O cenário é ainda mais preocupante entre as mulheres. Levantamento da Med-Rio, feito junto a executivas, registrou que o percentual de mulheres estressadas saltou de 40%, em 1990, para 67%, em 2017. E não podemos esquecer que a cada ano aumenta a quantidade de pessoas obesas. Atualmente, o país registra que um em cada cinco brasileiros está acima do peso, o que faz a obesidade prevalecer em quase 19% da população.

A obesidade desregula atividades hormonais, estando associada a altos níveis de glicose no sangue, baixos níveis de testosterona e altos níveis de citocinas inflamatórias. Cada um desses fatores pode ser determinante para a incidência de doenças cardíacas, derrame cerebral e cânceres. A cultura da prevenção parece ser priorizada apenas na área de Oncologia. Prova disso são as fundamentais campanhas Outubro Rosa, Novembro Azul e Dezembro Laranja: três meses destinados à prevenção dos cânceres de mama, de próstata e de pele.

Cerca de 90% dos cânceres são curados quando diagnosticados precocemente. A mentalidade da prevenção, em vez da remediação, precisa ser implementada em tudo que diz respeito à saúde humana. Todo o quadro aqui relatado só aumenta a importância de se planejar uma campanha nacional de estilo de vida saudável. A medicina preventiva é melhor e mais barata, tanto para o país quanto para o cidadão.

Para a população, significa evitar futuras consultas e economizar gastos com remédios. Para o governo, resultaria em economia nos cofres públicos, já que a melhora na qualidade de vida diminui a incidência de diversas doenças, esvaziando, assim, hospitais e postos de saúde. Prevenção é valorização da vida!

Fonte: Revista ACIBARRA

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